domingo, janeiro 02, 2005

American Pie



As escolhas de vida pesam-nos nos ombros como um fardo de dúvidas embaraçadas que definem quem podíamos ter sido. Em cada opção que temos de tomar hesitamos demoradamente e, se tivermos consciência definida, ponderamos com os princípios próprios, acabando por decidir. Vamos fechando cada vez mais portas e possibilidades até ao dia da nossa morte.
Irrita-me saber que já não vou ser jogador de futebol, astronauta ou condutor de fórmula 1. Irrita-me ainda mais pensar que daqui a dez anos vou saber que já não posso ser advogado, médico, psicólogo ou actor! A indefinição é uma benesse da infância que estou condenado a invejar.
Entre dúvidas e decisões, julgamo-nos sempre senhores de um qualquer género de moral irrefutável, um sentido do "certo" com que avaliamos incisivamente as acções alheias (e por vezes próprias): criticamos quem desiste, castigamos quem descansa e gozamos com quem falha.
"Devias ter continuado a estudar!", "Devias fumar menos droga...", "Achas que isso é maneira de falares com os teus pais?!?", "Se gostavas dela não devias fazer isso..."... Se a vida não é minha para que é que me ando a meter?!?! Cada um que faça o que quer! Uma coisa é aconselhar, outra coisa é criticar...
Tudo o que julgamos ser certo faz parte do paradigma em que fomos educados, não de uma qualquer legislação universal regente das evoluções humanas! Alguns dos princípios que nos foram impingidos nos anos de imaturidade fazem um sentido global que deve ser respeitado, pois assentam na necessária linha geral do "não faças aos outros o que não gostavas que te fizessem a ti!" (impressionante como do infantil sai o fundamental...). Todos os restantes motivos de crítica ou avaliação acerca das opções individuais são construções sem fundações que ao mais leve sopro argumentativo tendem a desabar... Isto quando não implodem por elas mesmas.
Aceitar a vida daqueles que me rodeiam como propriedade deles e por eles tratada, na qual não sou bem-vindo se tiver desejos de a modificar a meu bel-prazer, é algo que me parece alcançável. Pior é afrouxar a medida com a minha própria vida também... Espero vir a ter a capacidade de fechar os olhos para o que não fui e me concentrar exclusivamente em encontrar maravilhas naquilo que sou.

7 Comments:

At 12:37 da manhã, Blogger Fátima Santos said...

e disse! e disse muita bem! sim senhor Luís concordo totalmente contigo! pá frente!

 
At 1:59 da manhã, Blogger Aq said...

Tens 21 anos, tu? Surpreende-me. Eu... com a tua idade, não tinha as ideias tão arrumadinhas. Bom... a bem dizer, acho que nem agora, com 41, eheh. No entanto discordo contigo, se é que te interpretei bem. Não me parece que fechemos assim tantas portas atrás de nós. Há de facto, situações que não se vivem 2 vezes. Há de facto, oportunidades que se parecem perder. Mas há muitas portas (e janelas) à nossa frente. Caminhos que por vezes, quase retornam ao ponto de partida. Penso que a ideia é avançar. Sempre.
Gostei que tivesses aparecido... lá no meu blog.

 
At 6:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Luigi... este tema que abordaste consome-me de uma forma que ninguem imagina... sinceramente concordo que quanto mais tempo passa mais portas se fecham, qual delas escolher enquanto estao abertas? nao sera isso o jogo que caracteriza a vida? bom uma coisa tento-me mentalizar enquanto vou sendo consumido por essa perspectiva, é que independentemente de algumas portas nos levarem a salas fechadas à chave com janelas blindadas que apenas nos deixam espreitar para o que teria sido se... eu sinceramente espero que muitas mais nos dirijam a felicidade que tanto procuramos seja ela como for. peace of mind jon

 
At 10:00 da manhã, Blogger Margarida Atheling said...

Pois é Luis, não parece que tenhas só 21 anos!
Parabéns! confesso que aos 21 anos presentia estas questões mais do que as compreendia. És um rapaz sensato!
Não te percas a pensar no que podias ter sido porque quem "fala" como tu só pode ter feito escolhas certas. Nós nunca podemos ser tudo, mas basta fazermos escolhas coerentes e fundamentadas em principios justos, e parece-me que não deves ter feito outra coisa!

 
At 3:09 da tarde, Blogger Luís Almeida Fernandes said...

Nunca pensei que a minha idade viesse a ser tão realçada!
Gosto muito de ler comentários com mais bagagem, principalmente femininos. Mostra-me de relance a outra face das coisas...

 
At 3:11 da tarde, Blogger musalia said...

Ainda que pareça o contrário, nunca perdemos tempo quando fazemos determinada escolha. Não concretizar outros sonhos, não seguir outros percursos, em nada minimiza aquele(s) que escolhemos caminhar. Estávamos ocupados em outras coisas igualmente importantes.

E é bom saber e poder escolher. Saber dizer não, convictamente, a alternativas, aliciantes na aparência.

O importante é viver intensamente a vida que escolhemos.

Beijinho, Luís, felicidades para o teu blog.

 
At 4:25 da tarde, Blogger AnaP said...

Pondero muitas vezes no que estás a ponderar neste texto. E penso que a conclusão a que chegaste é a mais saudável de todas. Pensar nos "ses" e esquecer os "quandos" não nos leva a lado nenhum. Eu quero muito ser muita coisa, mas pelo caminho deixei muitos "quandos" tornarem-se "ses", e, no entanto, ainda tenho tantos "ses" que se podem tornar "quandos"... A vida é isto mesmo. Bem vindo a ela! Desfruta dela! E aceita o ser maravilhoso que és e podes vir a ser deitando para o lixo o ser de que não gostas. Mas, atenção: aceita os teus defeitos e aprende a viver com eles. Ninguém é perfeito! :-)
Beijinhos
p.s. Estou mesmo a gostar do que escreves!

 

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