sábado, fevereiro 26, 2005

Back to the Future



Motivado pela inovadora política de aceitação da homossexualidade promovida pelo eng. José Sócrates, resolvi aceitar a união de facto proposta pelo meu brother Jon e dar à luz um blog misto.
Isto significa o fecho permanente do Unseattling Reasoning e a abertura do novíssimo Life on a plate. Serão todos benvindos, caso nos desejem visitar...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Kinsey



A sociedade vive de uma concentração de restrições criadas para possibilitar uma convivência feliz entre os seres humanos. Isto passa pela ideia básica de limitar a liberdade singular em prol do bem colectivo, em campos divididos entre a lei e a moral.
A conduta a nível sexual é um ponto importante de definição da postura individual, tendo sido um dos mais controversos ao longo da história humana. O sexo é uma actividade natural motivada por instintos básicos e pode ser tratado com a ligeireza que isso implica. No entanto, é comummente aceite que o envolvimento físico pode originar laços sentimentais poderosos que degeneram em situações desesperantes, quando tratados incorrectamente... Em que ponto deve ficar a moral social? Repressiva e severa ou permissiva e benevolente?
Na minha opinião a postura sexual alheia não pode ser contestada. Devemos salvaguardar a liberdade sexual e sentimental de cada um, deixando espaço para uma exploração pessoal dos desejos físicos e emocionais. A repreensão face a opções como a multiplicidade de parceiros, a homossexualidade ou até mesmo a poligamia é uma postura demasiado autoritária e excede o papel moderador da moralidade comum. A regra básica das relações sexuais e amorosas, e a única que deve ser eternamente mantida, é a da necessidade do consentimento bilateral.
Eu defendo a união para a vida, física e emocional. Os outros que façam o que mais lhes aprouver, desde que actuem abertamente... Aviso-os apenas disto: o sexo é divertido, mas é demasiado importante nas relações amorosas para poder ser abordado de ânimo leve.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Studio 54



Dando voltas e voltas tudo parece desfocado. Cobrimos a vida com uma bruma tão densa de vivacidade que o seu sentido se perde numa mescla conexa de cores berrantes. Rodamos sobre nós próprios em actividades intensas e perdemos a noção de tempo, esquecendo as dúvidas dolorosas sobre o objectivo da existência.
Nesta roda-viva de acções supérfluas, em que todos os momentos são necessariamente ocupados e a solidão é intolerável, vamo-nos vacinando contra as dolorosas reflexões existenciais. Subtraímos pensamentos ao somarmos experiências e agarramos a vida pelo seu núcleo em vez de a agarrarmos pelo conceito! A aventura do corpo bloqueia a aventura da mente.
A vida activa é uma substância psicotrópica legal e universalmente utilizada pelos corpos corajosos com psiques cobardes.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Saved by the bell



Ao longo da vida são raras as relações humanas que se mantêm com um nível de actividade elevado, para além das familiares. As amizades vão-se desfazendo quando as circunstâncias levam a um afastamento físico inevitável e as relações amorosas que valem a pena têm um carácter dinâmico tão intenso que tendem para uma autodestruição indesejada.
No que diz respeito ao círculo de amigos que nos rodeia, eu estou plenamente convencido de que existe um número máximo de membros suportável, normalmente directamente proporcional ao tempo que temos disponível para estar com eles. Não me parece possível continuar a adicionar amizades fortes à nossa vida, já que os minutos não se tornam horas e o relógio não pára... O tempo dilui as amizades, como dilui a dor e o prazer. Parece-me também evidente que ao longo da vida vamos conhecendo pessoas novas, seja em mudança de emprego, de casa ou pura e simplesmente no dia-a-dia, muitas delas tornando-se realmente nossas amigas. Conjugando estas duas premissas chego a uma conclusão deprimente: grande parte das minhas amizades tende certamente para um afastamento...
Mesmo as relações amorosas têm uma probabilidade elevadíssima de desembocar numa separação. Parece-me que o amor é um ingrediente indispensável num namoro duradouro, e o amor verdadeiro torna as pessoas tão frágeis que é quase impossível não serem, mais cedo ou mais tarde, tão magoadas pelo companheiro de vida que não consigam voltar a estar com ele. O excesso de amor torna-se tão perigoso como a falta dele...
A minha postura torna-se clara... Nesta vida vou escolher cuidadosamente algumas pessoas para ocuparem um lugar destacado nas poucas amizades que tenho disponíveis (muitas delas já estão escolhidas!), sendo as outras posições ocupadas e desocupadas com o fluxo temporal. Importante é saber bem quais as que vão ficar e tratá-las com todo o cuidado que merecem.
Caso tenha a sorte de encontrar uma relação amorosa que prometa durar para sempre, vou colocá-la num pedestal (alto, para a cadelinha não estragar!) e prestar-lhe homenagem todos os dias.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Meet Joe Black



Todos vamos morrer um dia, e isso dá-me uma certa satisfação. Aprecio o final da minha vida em toda a dimensão das suas características, embora não tenha qualquer desejo de o apressar.
A fluidez, o dinamismo constante da génese humana e universal concede a cada um de nós um papel de escassos segundos na escrita errónea da evolução, permitindo-nos valorizar a nossa existência como algo que não é e nunca será: importante. Tudo o que somos é um acaso probabilístico sem causa nem consequência, uma gota de matéria que estranhamente saltou do mar imenso e conseguiu olhar lá para baixo (as que não estão ofuscadas por uma atroz ignorância), apenas para novamente cair e divergir nas águas revoltas perdendo a sua identidade.
Olhar para o Mundo como uma história imensa da qual fazemos parte, tanto como qualquer pedra ou árvore, em vez de o vermos apenas como o palco da nossa historieta miserável traz invariavelmente alegria superior e paz de espírito. Dá-nos o desejo de voltar a cair! Vamos esquecer as ilusórias visões teológicas de deuses e demónios que nos ofuscam as ideias. Vamos deixar para trás a postura antropocêntrica de narcisismo injustificável. Olhemos o Mundo, as coisas, os átomos e os mistérios físico-químicos! São eles a regra primordial e o milagre divino... Somos nós.
Não me preocupa o momento da morte física. Preocupa-me, isso sim, o recente momento da minha morte sentimental. Porque, apesar de não ter qualquer significado, gostava de saborear os instantes da minha existência.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Mad about you



Ainda a três passos da porta de casa cheirou-me ao champô de pêssego que usas no banho. Esse primeiro contacto com o ninho chegou para colocar em segundo, terceiro, décimo plano todos os problemas que me afligem quando estou fora de casa.
Quando entrei, vi-te sentada com uma camisola larga e calças de pijama, encostada ao apoio do sofá numa posição infantil de quem espera companhia. A cadelinha levantou-se, ainda com cara ensonada, e chicoteou-me simpaticamente com a cauda, em jeito de boas vindas. Beijei-te e sentei-me ao teu lado, o simples contacto com a tua pele suave e familiar trouxe-me uma felicidade mais essencial, mais simples que todas banalidades profissionais. Toda a minha vida não passa de um suporte estrutural para poder ter os momentos de solidão contigo, e tu és o suporte emocional que me levanta para o resto da minha vida. Sem ti algo desabaria. Tudo desabaria.
O outrora escuro futuro não tem surpresas para mim. Iluminaste a minha vida com a tua presença e sei que nunca vais sair do meu lado.