Sex and the city
Até cerca dos dezassete, dezoito anos de idade, a nossa vida emocional consiste numa espécie de amálgama de relações conturbadas em que se torna difícil definir o papel de cada personagem num guião ilegível de situações complicadas. Namoramos com amigas, somos amigos das nossas grandes paixões e, se tivermos sorte, fazemos sexo com pelo menos algumas delas... No entanto, com a chegada da maturidade (ou de algo que se assemelha a isso) começamos a tratar a nossa vida com um pouco mais de cuidado, avisados dos riscos tremendos que advêm das relações pouco equilibradas. E com esse cuidado pode vir um abrandamento indesejado da vida sexual.
O afamado período universitário é sempre visto socialmente como uma fase da vida de agitação sexual em que se multiplicam as parceiras do coito e as situações de engate ocasional. Esta situação é devida à extrema facilidade de encontrar raparigas interessadas em encontros estritamente sexuais, caso se seja pouco selectivo e minimamente bem-parecido. No entanto, trata-se também da fase da vida em que se torna evidente o pouco gratificante que é praticar sexo apenas com interesse lúdico e sem qualquer tipo de relação emocional, o que pode originar um período de virtual desertificação da cópula, caso não se viva uma relação estável.
Na entrada dos trinta, com vida orientada, dinheiro e uma incontornável dose de estilo, regressa a tendência para encontros amorosos ocasionais e surgem os conhecidíssimos "solteirões", tubarões brancos num charco de pequenas douradas. Estes espécimes desorientados vivem uma existência superficial em que a sua solidão evidente é infrutiferamente tapada com um lençol curto de encontros voláteis, mantendo o privilégio inquestionável de serem os heróis de uma horda de jovens impressionáveis que os seguem como Messias. Quando finalmente são atingidos pela evidência de terem uma vida à deriva, passam a uma fase mais estável (são pescados por uma das douradas...) e entram numa vida sedentária de que se vão para sempre arrepender; mas a insatisfação faz parte do espírito humano, chegando quase a ser um mal saudável.
Podemo-nos tentar convencer de que o sexo é uma espécie de entretenimento totalmente distinto do relacionamento humano, como uma ida ao cinema ou uma massagem tailandesa, mas no fundo sabemos que isso não é verdade. Por muito bom que seja fisicamente deixa sempre um impacto sentimental (principalmente nas mulheres mas também nos homens) que nos impele a geri-lo com maior cuidado e atenção. Uma vida sexual moderada leva a um equilíbrio espiritual indispensável para uma existência calma e recheada de paz interior.