sexta-feira, janeiro 07, 2005

Adeus, pai


Os maiores arrependimentos das pessoas em idade adulta estão relacionados com as atitudes relativamente aos progenitores, situações de raiva, indignação, ou pior que tudo indiferença.
A relação entre figuras paternas e crianças são sempre complicadas. No caso de se tratar de uma relação demasiado física entram em acção as barreiras masculinas que alertam para a estranheza de uma situação possivelmente amaricada, causando aqueles abraços bruscamente separados depois de um instante de união descomplexada. Por outro lado, se for uma relação puramente intelectual (a mais comum entre pai e filho), fica sempre no ar um cheirinho a afastamento que não deixa pressentir o amor que possivelmente paira por trás. Estes problemas logísticos deixam bem visíveis as dificuldades em conceptualizar a relação paterna ideal. No entanto, todos sabemos que existem situações bem piores que outras.
Para mim, a pior situação possível para o filho (exceptuando os casos extremos de violência doméstica) é a existência de um pai ausente que não educa, não ama, não sente, apenas se agarra ao título. Mesmo as situações de ausência total de figura paterna, por motivo de morte ou desaparecimento, não são tão arrasadoras para a criança, pois não a deixam com os sentimentos de inferioridade causados pelo desprezo de um pai conhecido e relativamente próximo. É violento crescer nestas condições.
Que pode o filho fazer para inverter esta situação? Naturalmente não será dele a iniciativa de levar o pai ao circo ou ao jardim zoológico, ou de puxar com ele as conversas que unem as almas! Resta-lhe limpar do rosto o sorriso triste de esperança acabada e levantar-se para viver a vida com a escassa autoconfiança que ainda lhe pertença, criando do nada o seu modelo de figura paterna e exorcizando constantemente os fantasmas do passado. E relembrar-se de que a culpa não é sua.
Ainda bem que já não sou criança.

8 Comments:

At 4:26 da tarde, Blogger Margarida Atheling said...

Realmente há muito a dizer acerca das relações pais-filhos.
Também há muito que dizer quanto às relações mães-filhos. Mas essas são mais concensuais, talvez porque a natureza ajuda, dá o mote, depois é só segui-la. Mas não é simples, nem sempre é.
Já com os pais... Talvez seja mais dificil ser pai do que mãe. Nunca tinha visto as coisas pela perpectiva dos homens. Sim, deve ser dificil encontrar um equilibrio entre o sentimento, a cultura que se herdou, a vontade, os receios...
E quando o pai falha... é desejar que exista um tio, um avô, um primo, um amigo ou até um professor ou vizinho que dê uma ajuda. Mas deve ser dramático. Deve!
Ainda bem que nasci mulher!

 
At 5:19 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O desprezo de um pai, deve ser das piores situaçoes que uma criança pode sentir na sua etapa de crescimento. Tenho que concordar que por vezes o desaparecimento da figura paternal pode ser mais facilmente encarada do que anos e anos de constante desprezo ou outros estados de espirito semelhantes a este, a verdade é que nunca experienciei esse desprezo propriamente dito, mas tenho que admitir que pelo menos, e aqui falo por experiencia propria, quando os pais nao estao juntos e dao inicio a outras relaçoes conjugais, se da uma alteraçao por completo das prioridades sentimentais, sendo os filhos sem duvida os mais fustigados. Tenho que realmente estranhar o facto de estas situaçoes acontecerem maioritariamente ou quase totalmente com a figura parental. jon

 
At 9:16 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não se pode esquecer que os filhos podem e devem fazer de tudo para que a relação pai-filho dê resultado. Não se pode esperar sentado ate que o velhote tome todas as iniciativas. se é bom para um filho ver um pai empenhado, dando amor, carinho e tudo mais, tambem deve ser muito bom um pai ver o filho a lutar para um bom entendimento e relacionamento. Familia é familia.
Peter. Paz.

 
At 1:43 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá :) fizeste uma visita ao meu blog, e hj chegou a minha vez de retribuir. Tive a dar uma vista de olhos pelos teus textos e gostei mto, deu p ver nas entrelinhas a tua personalidade e maturidade, de tal maneira q fiquei curiosa e fui ver a tua idade. Fiquei surpreendida por teres só 21 anos, quer dizer eu tb tenho, m deves perceber o q quero dizer, pareceste-me diferente, e claro q isto é um elogio ;) beijinhos e parabéns, gostei mto!

Gisela (http://aminhapoesia.blogs.sapo.pt/)

 
At 1:13 da manhã, Blogger saltapocinhas said...

Tens toda a razão. E esse filme foi um dos filmes que mais me impressionou (e dos poucos filmes portugueses de que realmente gostei). Boa semana!

 
At 1:39 da manhã, Blogger Lily said...

Adoro ler-te. =)
Tem uma óptima semana. ***

 
At 5:31 da tarde, Blogger PARTILHAS said...

Pois eu não vi o filme...Li algures num blogue, que muitas vezes um Adeus, representa um Olá... E também poderei dizer, que muitas vezes as situações não são tão extremas assim... Existem muitos filhos, que quando são pais, percebem, que a ausência, do pai... conseguia ser muito mais presente do que a sua, agora e então...

 
At 12:45 da tarde, Blogger AnaP said...

Costumo dizer aos meus pais que não são só os pais que educam os filhos, mas também os filhos que educam os pais. Quero com isto dizer, que talvez tenhamos de deixar de ser preguiçosos e apontar o dedo aos progenitores remissos e tomar uma iniciativa para que haja um bom relacionamento. Posso estar a ser sonhadora ou irrealista, mas a verdade é que em determinado ponto da minha vida, tomar uma atitude para com os meus pais deu resultado. Um beijinho!

 

Enviar um comentário

<< Home