quarta-feira, janeiro 05, 2005

Taxi


Há muitos tipos de esquizofrenias temporárias que nos afectam regularmente em situações muito específicas... Quando o mundo que estamos a observar não nos agrada ou simplesmente nos aborrece tendemos a fazer umas modificações temporárias no sentido de o tornar mais apelativo, acabando por se tornar menos prejudicial para a nossa saúde mental (quantas vezes imaginei verdadeiros circos pornográficos em torno de salas de espera de hospitais...).
No entanto, algumas destas mudanças de personalidade e de forma de ver o que nos rodeia são muito difíceis de explicar, não passando de distúrbios perigosos que todos ganharíamos em eliminar. Um exemplo perfeito é a agressividade e competitividade que nos entra nas veias quando nos sentamos ao volante de um automóvel.
Nunca vi ninguém acelerar o passo para chegar à passadeira com o sinal verde ou para "comer por fora" um tipo qualquer com ténis especiais de corrida, mas no que toca à condução é um acontecimento diário. E não pensemos que os autores destas façanhas do desporto automóvel são pessoas mal-formadas ou com problemas psicológicos! São precisamente o simpático senhor da mercearia, o puto porreiro que vai à missa e o nosso médico de família, pessoas inofensivas que se tornam verdadeiros psicopatas quando se vêem ao volante! A entrada num carro transforma as pessoas, insere-as num mundo próprio em que os objectivos primários (mais ainda do que a sobrevivência) são a chegada no menor tempo possível e com o maior número de ultrapassagens.
E porquê esta alteração aparentemente injustificada? Não tenho certezas, mas claro que tenho uma teoria...
Vivemos num ambiente tremendamente castrador que nos obriga a controlar os instintos mais primários (como o sexual) ao longo de toda a vida, travando uma luta constante com a nossa própria genética, que vem preparada para a selva natural e não para a selva urbana. Há muito poucas formas de libertar esses impulsos primários e alcançar alguma paz de espírito e quando, como ao volante, vemos uma possível escapatória para os mesmos são vinte anos de contenção que se libertam num instante! Infelizmente, a única forma que vejo para contornar este problema é com mais uma dose de autocontrolo, o que é muito pouco apelativo...
É o que se ganha em construir uma sociedade limitadora e com pouco espaço para a exploração do indivíduo. É caso para dizer "Vou mas é kitar o bote e viva o racing!".

8 Comments:

At 2:19 da tarde, Blogger Luís Almeida Fernandes said...

Bruno, pediste um post mais "soft" e aqui tens! Espero que assim não te prejudique o estudo...
Agora fico à espera de um comentário!

 
At 2:46 da tarde, Blogger Margarida Atheling said...

Uma constatação indesmentível e uma explicação possível. Muito provável até!

 
At 3:53 da tarde, Blogger Fátima Santos said...

tem graça! o comentário que fazes sobre o teu (que teu assim entendes!) modo de sentir a nudez masculina está completamente inserido neste modo de apreciar esta pulsão ao volante! Eu acho! Peço-te que penses nisso e sobre isso ( o corpo o teu e o dos outros...penses e converses com outras pessoas) Um abraço, Luís.

 
At 4:49 da tarde, Blogger Luís Almeida Fernandes said...

Aproveito para deixar aqui a sugestão de lerem um texto muito bonito escrito pela seila (http://intervalos.blogspot.com/2005/01/segredo.html#pensamentos).
Não concordo com a associação que fazes entre o meu comentário e este meu texto, até porque o texto está escrito com um tempero de ironia. De qualquer forma agradeço o comentário, que acabou por me fazer pensar um bocado...

 
At 4:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Grande Luigi, companheiro de ondas...
Finalmente tenho pc funcional e a primeira coisa que fiz foi postar no meu blog. Logo de seguida devorei os teus textos. A questao da condução é muito complexa e a meu ver, o que leva alguem a ter uma conduçao agressiva, abusando de mudanças baixas e travao de mão, é o facto de não gastar dinheiro em gasolina...ehehe. Mas a sério...não pares de escrever...!
Abraços Peter!

 
At 10:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vivemos numa sociedade castradora , dizes tu....vivemos sim senhor digo-te eu. E sempre que temos a oportunidade de extravasar os nossos impulsos(mesmo os sexuais) é a loucura total , e acabamos por cometer actos que se calhar no dia a dia condenamos porque socialmente é inaceitável.Pois eu acho que cometer umas loucuras de vez em quando é saudável até para mantermos a nossa mente sã e activa . Mónica (mco.blogs.sapo.pt)

 
At 1:30 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Sem duvida que as esquizofrenias temporarias que vivemos de tempos a tempos sao a saida para uma vida aborrecida... quanto a conduçao sem duvida que deforma caracteres... mas no entanto acho que tem o seu ponto negativo, é que a agressividade ao volante muitas vezes passa ca para fora e por muito que ao volante da nossa bomba nos sintamos um Schumacher quando saímos do carro para ajustar contas por causa daquela ultrapassagem ou daquela brincadeira mal medida, nao nos transformamos em nenhum tyson... quer dizer nós achamos que estamos possuidos pelo tyson mas a verdade é que basta algum tarzan taborda para nos por na ordem... o meu conselho é manter a agressividade na estrada, claro sem por em perigo os outros. jon youthagainstestablishmente.blogspot.com

 
At 12:50 da tarde, Blogger AnaP said...

Realmente é verdade, Luis. Se estou em dia não e vou conduzir, farto-me de apitar como que a chamar nomes aos outros desgraçados que não têm culpa nenhuma de eu estar com os azeites. E tudo porque não posso gritar com as pessoas que me deixaram aborrecida... Enfim, errare humanum est... Beijocas

 

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