terça-feira, fevereiro 08, 2005

Saved by the bell



Ao longo da vida são raras as relações humanas que se mantêm com um nível de actividade elevado, para além das familiares. As amizades vão-se desfazendo quando as circunstâncias levam a um afastamento físico inevitável e as relações amorosas que valem a pena têm um carácter dinâmico tão intenso que tendem para uma autodestruição indesejada.
No que diz respeito ao círculo de amigos que nos rodeia, eu estou plenamente convencido de que existe um número máximo de membros suportável, normalmente directamente proporcional ao tempo que temos disponível para estar com eles. Não me parece possível continuar a adicionar amizades fortes à nossa vida, já que os minutos não se tornam horas e o relógio não pára... O tempo dilui as amizades, como dilui a dor e o prazer. Parece-me também evidente que ao longo da vida vamos conhecendo pessoas novas, seja em mudança de emprego, de casa ou pura e simplesmente no dia-a-dia, muitas delas tornando-se realmente nossas amigas. Conjugando estas duas premissas chego a uma conclusão deprimente: grande parte das minhas amizades tende certamente para um afastamento...
Mesmo as relações amorosas têm uma probabilidade elevadíssima de desembocar numa separação. Parece-me que o amor é um ingrediente indispensável num namoro duradouro, e o amor verdadeiro torna as pessoas tão frágeis que é quase impossível não serem, mais cedo ou mais tarde, tão magoadas pelo companheiro de vida que não consigam voltar a estar com ele. O excesso de amor torna-se tão perigoso como a falta dele...
A minha postura torna-se clara... Nesta vida vou escolher cuidadosamente algumas pessoas para ocuparem um lugar destacado nas poucas amizades que tenho disponíveis (muitas delas já estão escolhidas!), sendo as outras posições ocupadas e desocupadas com o fluxo temporal. Importante é saber bem quais as que vão ficar e tratá-las com todo o cuidado que merecem.
Caso tenha a sorte de encontrar uma relação amorosa que prometa durar para sempre, vou colocá-la num pedestal (alto, para a cadelinha não estragar!) e prestar-lhe homenagem todos os dias.

3 Comments:

At 12:53 da tarde, Blogger Miriam Luz said...

" (...) e as relações amorosas que valem a pena têm um carácter dinâmico tão intenso que tendem para uma autodestruição indesejada."

Num dos seus romances (não tenho a certeza se n' O Livro do Riso e do Esquecimento, se n' A Identidade) Milan Kundera faz um pouco essa análise. As relações mais intensas acabam por passar por um processo de "implosão", precisamente devido ao carácter dinâmico que referes. Inclusivamente uma das personagens vê-se responsável pelo fim de um relacionamento por temer pelo amor de ambos: "O excesso de amor torna-se tão perigoso como a falta dele…").
Normalmente associamos uma relação mais "frívola" a um final prometido e o teu post faz uma abordagem bem diferente e que corresponde efectivamente à realidade!...
Concordo também com o que escreveste acerca das amizades e das forçosas limitações que o tempo lhes oferece. Tens razão: conclusão deprimente…!

Gostei muito deste post… =)

Beijinho
Litostive
http://litostive.blogspot.com

(Olha o Zack ali na foto... o meu preferido era o Screech! =p lol)

 
At 1:58 da tarde, Blogger AnaP said...

Eu tenho uma teoria de que tudo tem um tempo e um lugar e quando algo atinge o seu auge, pouco depois vem a curva descendente até ao zero. As amizades e os amores também são assim. Ah, esta minha teoria tem alguns exemplos práticos que a confirmam. Quem me dera estar enganada!
Beijinhos*

 
At 8:59 da tarde, Blogger sotavento said...

Tão bem visto, caramba!... :)

 

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